Festa do Divino Espírito Santo
da Nova Inglaterra 2009

Texto de: Carlos Morgadinho
Fotos de: Carlos Morgadinho e José Ilídio Ferreira
Adiaspora.com
Agosto 2009

Esta reportagem só foi possível, mais uma vez, graças ao gentil apoio dado pelas firmas, Metrix Carpentry, Remax Central Corp. e Toledo Printing & Design. Aqui ficam também os nossos agradecimentos a José Ilídio Ferreira, Manuel (Manny) da Silva, John Botelho e a Lynda Matias. Para todos estes nossos patrocinadores, um muito obrigado.

Estivemos, mais uma vez, entre os dias 28 e 30 de Agosto passado, na cidade de Fall River, Estado de Massachussets, a fazer a nossa cobertura habitual das bem conhecidas “Grandes Festas do Divino do Espírito Santo da Nova Inglaterra”, que, como é do conhecimento geral se vêm realizando há 23 anos e que no presente ano, atraíram apenas, devido ao mau tempo que se fez sentir naquela costa dos Estados Unidos pela passagem do tornado Danny, pouco mais de 100 mil pessoas entre elementos da população desta cidade anfitriã e doutras vilas e cidades dos Estados de Massachussetes, Providence, New Hampshire, Maine, Connecticut, Colorado, New York, New Jersey e de outros lugares mais distantes como da Califórnia, Bermudas e do Canadá. Empregámos atrás a palavra “apenas” para assim compararmos com os anos transatos que, segundo os entendidos, nunca foram inferiores aos 150 mil espectadores e participantes, durante os dois principais desfiles, o Etnográfico e o da Coroação.

Vista do Parque Kennedy com a coroa, Igreja de Santa Ana e o Império do Divino

No dia anterior ao da nossa chegada àquela cidade da Nova Inglaterra, Quinta-feira, dia 27 de Agosto, iniciaram-se as festividades com a abertura da iluminação, pelas 19 horas, no Kennedy Park e na Igreja de Santa Ana (Saint Anne’s Church), locais daquele evento. Seguidamente, até às 23 horas, teve lugar o espaço de entretenimento para a juventude com as actuações do  Conjunto Euro, Peter Michael, Shirley Guerreiro, Tania Marie  e Young Fire. No dia seguinte, Sexta-feira, dia 28, realizou-se a cerimónia mais importante destas festas anuais. Tratou-se da benção pelo Bispo de Faro (Algarve), D. Manuel Quintas, das 365 pensões compostas por pão, carne e vinho que foram distribuídas pelos mais necessitados. Este acto da benção é referente ao milagre da Rainha Santa Isabel, esposa do nosso rei D. Dinis, no século XIII, que durante uma das suas obras de caridade, na distribuição de comida pelos pobres, foi interpelada pelo rei e esposo, acerca do que levava escondido no seu manto ao que ela, a hoje Rainha Santa Isabel, respondeu serem rosas. 

Durante a missa de coroação

Com esta resposta o rei ficou admirado pois estava no meio do mês de Janeiro e não havia nessa estação do ano tais flores. Ao abrir o manto estavam as tais mencionadas rosas que caíram no chão, em vez da comida. E é com este milagre que vem desde então passando de geração em geração que o culto ao Divino Espírito Santo inclui esta cerimónia de fraternidade afim de ajudar os mais necessitados. Estavam também presentes nesta cerimónia a actual presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada (Ilha de São Miguel, Açores) e líder do partido PSD naquela Região Autónoma, Berta Cabral; do maior goleador jogador de futebol da nossa selecção Portuguesa, Pedro Miguel Resendes, por todos conhecido por “Pauleta”; do Presidente da autarquia de Fall River, o luso-americano Roberto Correia; do presidente da Comissão destas Grandes Festas, Fernando Garcia; do Presidente da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, e em representação do Governo daquela Região Autónoma de Portugal, Francisco Coelho; dos vice-presidentes das autarquias de Ponta Delgada e Lagoa, ambas da Ilha de São Miguel, respectivamente António Borges e Roberto Medeiros; do deputado da Assembleia da República, Renato Leal, do administrador do Banco BANIF, António Manuel Rocha Moreira; do empresário luso-americano, John Ferreira em representação da comunidade portuguesa, além de muitos outros dignatários civis e religiosos convidados para estas festas.

Esta simbólica e importante cerimónia não foi realizada defronte do Império e da Coroa erguida no Kennedy Park, como é tradição, mas sim no interior duma gigantesca tenda devido à chuva copiosa e persistente que desabou sobre a região no final daquele dia.  Ao iniciarem esta cerimónia foram executados os hinos de Portugal e dos Estados Unidos da América do Norte pelas duas filarmónicas presentes, Aliança Filarmónica Associação Cultural Recreativa Desportiva Aliança dos Prazeres de Pico da Pedra e Filarmónica de Nossa Senhora da Piedade de Ponta da Garça, ambas da Ilha de São Miguel. Naquela mesma tenda foi inaugurada a Expo Fall River 2009, onde se podiam apreciar peças de artesanato da região dos Açores, fotografias e outras actividades económicas das respectivas autarquias uma interessante e valiosa iniciativa da AMISM (Associação dos Municípios da Ilha de São Miguel) com a presença das já referidas individualidades. Mesmo com chuva e com pouca assistência o calendário de entretenimento continuou naquela noite com a actuação do “Grupo de Raízes” da Casa dos Açores da Nova Inglaterra, da “Folia da Santíssima Trindade” de Bristol (Rhode Island); do “Pezinho à Moda da Terceira” com diversos cantadores daquela zona leste dos Estados Unidos; do grupo “Amigos Açorianos” e a encerrar a noite o artista Victor Santos.

Durante a missa de coroação

No Sábado, dia 29, o programa foi cancelado do qual consistia o tradicional e apreciado cortejo do Bodo de Leite que incluía o Etnográfico, devido à forte chuvada que, durante todo o dia e noite, fustigou aquela área. Foi pena tal não ter acontecido uma vez que era de grande importância para as comunidades lusas e infelizmente não aconteceu devido ao temporal que naquele dia se fez sentir.

A benção das pensões

Pelo que temos presenciado nos anos anteriores é um dos mais bonitos, participativos e interessantes cortejos que temos visto ao longo de todos estes anos. É um desfilar ininterrupto por mais de três horas da nossa expressão cultural ao vivo, tanto das regiões do continente como das regiões autónomas dos Açores e da Madeira. Ali, naquele cortejo, está inserido o tradicional Bodo de Leite, folias e Pezinho dos Açores,  dos Zé Pereiras e do rufar dos tambores do Minho, das danças de Carnaval e marchas de São João à moda da Terceira, dos bailinhos da Vila de Rabo de Peixe, dos trajes regionais de todas as regiões de Portugal, dos fabulosos e enfeitados carros alegóricos, das muitas charangas musicais e grupos de  tocadores de violas da terra, violões e cavaquinhos que juntamente com algumas bandas filarmónicas animam este desfile das nossas preciosas raízes. Foi um choque este cancelamento. Houve gente que chorou de tristeza após viajar centenas de quilómetros para não perder  esta manifestação viva dos nossos costumes e no fim não a puder ver. Muitos não acreditavam ainda que o cortejo estava cancelado pois foram aparecendo ao longo do dia pelo Park que se encontrava debaixo duma cortina de água e completamente alagado. Falámos com os seus coordenadores, o Clemente Anastácio e Nuno Pimentel, este último no pelouro do cortejo de Coroação e ambos manifestaram a sua tristeza por terem sido forçados a cancelar aquele cortejo, coisa que nunca tinha acontecido até ao momento ao longo destes 23 anos de programação. A emoção era de tal ordem que a voz, nestas duas figuras principais da coordenação destas festas  se lhes embargava na garganta. Mas não precisavam de falar. A frustração era bem visível nos seus rostos.

A oferta duma peça de artesanato à Dra. Berta Cabral

Após a tempestade, a bonança chegou no dia seguinte, Domingo, dia 29, onde inclusive o Sol raiou e aqueceu na parte da tarde. Assim deu-se continuidade às Grandes Festas do Divino Espírito Santo com uma missa solene e cantada pelo meio-dia na Igreja de Santa Ana que foi celebrada pelo Bispos de Faro e de Fall River, Don Manuel Quintas e Don George W. Coleman, respectivamente. O canto esteve ao cuidado do Grupo Coral da Igreja de Monte do Carmo de New Bedford. Após a missa procedeu-se à coroação de mais de duas dúzias de crianças pelos já  mencionados Bispos presentes atrás referidos. De seguida foi servido um pequeno almoço numa das dependências daquela Igreja para as entidades oficiais e convidados.

Convidados no momento em que se juntavam à procissão

Pelas 14 horas procedeu-se à concentração das bandas filarmónicas e mordomias para a Procissão da Coroação cujos nomes abaixo descriminamos e que participaram integrados no Cortejo daquela tarde.

Uma das muitas rainhas na procissão

Bandas Filarmónicas
Banda de Nossa Senhora dos Anjos de New Bedford (Massachussets)
Banda Nova Aliança de Santo Antóniko de Pawtucket (Rhode Island)
Lusitania Band de Cumberland (Rhode Island)
Banda de Nossa Senhora do Rosário, de Providence (Rhode Island)
Filarmónica de Santo António, de Cambridge (Massachussets)
Banda de Nossa Senhora da Conceição Mosteirense de Fall River (Massachussets)
Filarmónica de Nossa Senhora da Piedade, de Ponta da Garça (Ilha de São Miguel, Açores)
Saint Anthony Band, de Fall River (Massachussets)
Banda Lira Portuguesa de Brampton (Ontário, Canadá)
Banda de Nossa Senhora de Fátima, de Newark (New Jersey)
Banda Recreativa Portuguesa de Peabody (Massachussets)
Banda Nossa Senhora da Luz, de Fall River (Massachussets)
Banda Filarmónica Portuguesa de Montreal (Quebeque, Canadá)
Banda do Espírito Santo de Lowell (Massachussets)
Banda do Espírito Santo de Laval (Quebeque, Canadá)
Banda do Senhor da Pedra, de New Bedford (Massachussets)
Banda Lira de São Francisco Xavier, de East Providence (Rhode Island)
Banda Filarmónica de Santa Cecília, de Fall River (Massachussets)
Banda Filarmónica Associação Cultural Recreativa Desportiva Aliança dos Prazeres, de Pico da Pedra (Ilha de São Miguel, Açores)

Lista das Irmandades
Irmandade do Divino Espírito Santo da Igreja de Santo de Pawtucket (Rhode Islande)
Irmandade da Casa dos Açores do Ontário (Canadá)
Irmandade da Santíssima Trindade de Bristol (Rhode Island)
Irmandade do Divino Espírito Santo do Pico de New Bedford (Massachussets)
Irmandade do Divino Espírito Santo da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, Providence (Rhode Island)
Irmandade do Divino Espírito Santo da Igreja do Espírito Santo de Attleboro (Massachussets)
Irmandade do Divino Espírito Santo de Fall River (Massachussets)
Irmandade do Divino Espírito Santo da Igreja de Santa Isabel, de Bristol (Rhode Island)
Irmandade do Divino Espírito Santo dos Açores, de New Bedfor (Massachussets)
Irmandade do Senhor Bom Jesus da Vila de Rabo de Peixe, de East Providence (Rhode Island)
Irmandade do Divino Espírito Santo dos Açores Sports Club, de Newark (New Jersey)
Irmandade do Espírito Santo da Banda de Nossa Senhora da Luz, Fall River (Massachussets)
Irmandade do Divino Espírito Santo, da União Portuguesa Beneficente, Pawtucket (Rhode Island)
Império da Santíssima Trindade de Lowell (Massachussets)
Irmandade do Divino Espírito Santo de Lowell (Massachussets)
Outros grupos e associações religiosas e de beneficência seguiam integradas nesta procissão cujos nomes omitimos para o texto não se tornar extenso e cansativo. Uma bancada provisoriamente montada no referido Kennedy Park albergou os convidados de honra para aquelas cerimónias até à chegada do momento para também se juntarem à procissão. Pelas 14:00 horas deu-se início, como atrás já referimos, à Procissão de Coroação cujos grupos, Bandas Filarmónicas e outros participantes saíam defronte da Igreja de Santa Ana para um trajecto por várias ruas daquela zona, regressando depois ao Kennedy Park.  Os Bispos atrás mencionados também fizeram, após a Missa Solene, parte da Procissão, que integrava mais de dois milhares de participantes, entre convidados, Bandas Filarmónicas, Irmandades do Divino Espírito Santo, Folias, ordens religiosas, Mordomias, as Rainhas com as suas coroas e seus maravilhosos e longos mantos vermelhos, ou azuis, bordados a dourado com dísticos e símbolos alusivos ao Divino.

Uma jovem com a coroa do Divino Espiírito Santo

A festa continuou e pelas 17 horas, actuaram os artistas, Irmãos Justinos e Joe Pavão, e  ocorreram as habituais arrematações de diversos objectos oferecidos por benfeitores, terminando estas festividades com concertos, pelas Bandas Filarmónicas de Santo António de Cambridge, de Nossa Senhora do Rosário de Providence, da Banda Lira Portuguesa de Brampton, Canadá e por último com Filarmónica Nossa Senhora da Piedade de Ponta da Garça, de São Miguel.

Artesanato da lagoa, de São Miguel

Queremos mais uma vez, como já o fizemos no ano passado, abrir a nossa "secção" de crítica e deixar o nosso parecer sobre as estruturas destas grandes festas que atraem, naqueles dias, dezenas de milhares de forasteiros. Não estamos a referir às festividades mas sim à própria cidade. Primeiro a inexistência de unidades hoteleiras dentro da cidade. Confessamos não ter conhecimento delas e assim quem quiser assistir a estas importantes festas ou tem que ter amigos ou familiares que os albergue ou então têm que se deslocar para longe, para as localidades mais próximas como sejam: Swansea, Seekonk, Dartmouth ou West Port.

Estávamos, desta vez, (foi o que conseguimos arranjar) no Hampton Inn, em Westport, onde, com desconto de “seniores” nos foi debitado uma pequena “fortuna” diária,  156 dólares americanos, e com um regular check in, só lá para as 3 horas da tarde mas com um bocadinho de sorte lá conseguimos que nos deixassem entrar pelas 13 horas.

Um artesão fabricando cestos de vime

Tal situação já se nos deparou pelas cinco vezes que ali nos deslocámos nestes últimos anos. Os transportes públicos é "esquecê-los". Ou se aluga carro ou se anda a pé durante várias milhas. Parece ser uma situação que se depara com a maioria nas pequenas cidades daquele país onde se verifica a quase inexistência de transportes públicos. E quer aquela gente poupar o meio ambiente. Tem-se mesmo que ter carro nestas cidades do país do Tio Barak Obama. A outra situação que nos tem sido apresentada na industria hoteleira são os restaurantes e casas de pasto a encerrarem as portas às dez da noite, deixando centenas ou mais, de pessoas "à fome" e só com a opção de irem para o Kennedy Park e ali degustarem os “hot-dogs”, “hambúrgueres”, “malassadas”, caçoilas, favas e outros "petiscos" do género e aguardarem pacientemente nas extensas filas para adquirem as senhas dos alimentos e bebidas. Eram quatro ou seis dezenas, para se comprarem as senhas e depois o dobro desse tempo nos balcões onde eram servidas as refeições. Na verdade é preciso ter em conta que naquele dia de Domingo, o Park tinha mais de 20 mil pessoas. Noutros restaurantes e cervejarias, bem conhecidos, nas proximidades do Park, era a mesma “história” com as filas de espera compostas por dezenas de pessoas porque os salões encontravam-se completamente lotados.  Era bom que o Presidente da Câmara de Fall River, o senhor Robert Correia, ou o próximo autarca a ser eleito para aquele referido lugar já que estamos, neste momento, na presença de campanhas eleitorais para a presidência daquela municipalidade, ou os seus vereadores, se debruçassem sobre este assunto. Seria bom que a cidade, perante estas festividades e outras, que atraem dezenas de milhares de pessoas, criassem infra-estruturas a fim de ser apetrechada com novas unidades de hotelaria (hotéis, residenciais ou hospedarias) dentro da área urbana, para que os turistas e visitantes não tenham que ir para os arredores ou  para East Providence, Westport, Seekonk e até para New Bedford ou para muitas outras cidades dos arredores ou ainda para mais longe.

Resumindo: Nesta nossa deslocação somos peremptórios ao afirmar que valeu a pena ter ido até Fall River  (mesmo com o mau tempo)  e cobrir os eventos das Grandes Festas da Nova Inglaterra. Só tivemos pena da não realização do Cortejo Etnográfico e do Bodo de Leite pelas razões já aqui deixadas – pela tempestade que se fez sentir no Sábado. Tivemos também pena de não ter assistido ao Banquete de Encerramento daquelas Festas que se realizou pelas 18 horas do dia seguinte, Segunda-feira ( 31 de Agosto), no Restaurante “Venus de Milo” e que contou com a presença de mais de 500 pessoas entre convidados e mordomias. Fomos atempadamente convidados pela Comissão para estarmos presentes neste jantar de encerramento recusámos porque regressámos a Toronto no Domingo à noite. No entanto aqui ficam os nossos agradecimentos e até para o próximo ano se Deus quiser. A finalizar estes nossos agradecimento gostaríamos de alargá-los aos membros da Comissão de Festas, em particular, aos seus dois directores e coordenadores, senhores Clemente Anastácio e Nuno Pimentel, pelo apoio que nos foi dado durante a nossa permanência no local e que o Divino Espírito Santo vos cubra com todos os seus dons.

Queremos ouvir a sua opinião, sugestões ou dúvidas: info@adiaspora.com

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