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Coisas, que a saudade marca!

 

Por força da vida desenfreada que todos levamos, empurrão daqui, puxão d’acolá, os nossos contactos resumem-se a encontros esporádicos pelos “corredores comunitários da saudade”, lugares onde se cruzam todos os que, há mais ou menos tempo, aqui vivem. Cada um de nós acaba por ser o resultado dos diferentes espaços percorridos, sejam eles marcados pelo traçado das fronteiras físicas ou pelas pátrias interiores erguidas no imaginário da saudade e da memória. É no confronto diário com estas pátrias interiores que surgem os conflitos ligados às indefinições identitárias, à relação de pertença ou exclusão de mundos eternamente por definir, aos choques culturais disfarçados pelas cicatrizes da integração, às feridas diariamente lambidas na esperança de suavizar os golpes rasgados em anos de resignação, às ausências dilatadas pelo amontoar de injustiças, crenças religiosas, promessas e pelo vazio de uma esperança já moribunda nas teias esfarrapadas da fé!

Trocaram os coqueiros, embondeiros, mangueiras, tamarindos – por onde trepara toda a seiva do nosso crescimento – por macieiras, pessegueiros, estevas, alecrim, rosmaninho de que não sentíamos o cheiro. Nos mares das praias do Algarve, Caparica e Figueira da Foz, também se não desenhavam mastros das traineiras, nem das canoas da Ilha de Luanda. Os poetas da nossa terra não figuravam nas antologias onde a medo aparecia o Namoro de Viriato da Cruz a mandar cartas em papel perfumado e elas a dizerem que não! Tal como na nossa infância, para se entender a vivência deste outro quadro meteorológico, é preciso conhecê-lo por dentro: sentir-se lambido pelos tufões da incompreensão, ser levantado pelas espirais dos ciclones da teimosia e, de repente, cair perdido nas encruzilhadas do nada.

Decorridos todos estes anos, conhecemos agora os balcões onde as cordas de nylon amordaçaram o silêncio de tantas humilhações envergonhadas. Que raio de país o nosso que estrangulou poetas nas malhas apertadas das alfândegas do desespero! Se soubermos ler, algumas das estrofes continuam a andar por aí à solta à procura da rima perdida. Ainda não sabem a que poema pertencem.

“Pátria que me pariu” – diria Gabriel, o Pensador.

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