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O velho conflito entre residentes e não residentes

 

Não é fácil largar agora daqui e partir para outras paragens. Foram dois meses e meio de convivências com a ilha, com a família e com tan ta gente que comigo cresceu na infância, na juventude e durante a vida. Está na hora de partir, porque compromissos familiares a isso obrigam. Não fora isso, e por cá ficaria a curar as muitas partidas indesejadas, feitas desde os dez anos de idade.
A primeira foi para São Miguel, ainda era menino de calção curto. A idade adulta aconteceu, precocemente, quando, já a bordo do Carvalho Araújo que me levaria a São Miguel, tive de trocar o calção pela calça comprida, sinónimo de um patético recato que passava mais pela mente de adultos preconceituosos, que pelas crianças, obrigadas a vesti-las. Desde essa altura, todas as partidas da Ilha foram abrindo uma profunda ferida que não mais sarou e teve consequências na minha vida. Creio que o mesmo aconteceu com todos os emigrantes que, tal como eu, não deixam de estar sempre a pensar na sua terra e nos que aqui ficaram.
Ao fim de tantos anos passados em São Miguel, na Terceira, e em Angola, não consigo apartar-me, de alma e coração, deste Pico majestoso , desta ilha encantada que me viu nascer e onde gostaria de viver e morrer. Mas, a vida é feita de contradições, de felicidades e desencantos, de vontade e mal-querer, de amores e ódios, de sonhos e desventuras, de prazeres e dores, de memórias, de esquecimentos e de arrependimentos. Voltar à terra é sempre um desejo sonhado e apetecido na falsa convicção de que a vida do tempo de infância se mantém. Nada mais errado. Quem volta é considerado pelos residentes: forasteiro, visitante, intruso e, quantas vezes, detestado.
Tenho esta percepção confirmada no modo como os residentes encaram as opiniões, os desabafos, as críticas e as propostas dos naturais que vivem no exterior. Habituados a meios urbanos mais evoluídos dos EUA, Canadá,  Continente e até de outras ilhas, os migrantes residem em cidades, cujo progresso eles ajudaram a construir e, numa atitude construtiva, pretendem, ver nas suas terras, instaurados os bons exemplos e experiências de vida. Encontram todavia, alguma resistência às propostas de inovação e mudança não só dos governantes locais, como dos responsáveis das instituições sociais. Este desentendimento, geralmente, redunda em mal-entendidos, pois os locais entendem que os sacrifícios de quem ficou na ilha-natal, conferem um estatuto que lhes permite fazer o que pensam, querem e bem entendem.  Esta reacção faccioso e intolerante, deve ser repudiada e corrigida.
Muitas das opiniões e propostas feitas pelos migrantes nascidos nestas ilhas, foram testadas, com sucesso, por entidades e técnicos de reconhecida competência e promoveram a qualidade de vida e a preservação do património ambiental e construído que todos desejamos para as nossas ilhas e que, mesmo os não-residentes têm o direito de reivindicar.
A não existência de empregos qualificados, ou melhor, a falta de criatividade e de espírito de empreendedorismo, fez com que muitos da nova geração procurassem formas de vida noutras paragens. Por isso ficaram, entre nós, poucos técnicos, quadros menos qualificados sobretudo nas actividades económicas. Ressalvo os professores, cujas qualificações e mérito estão à vista no bom desempenho dos alunos das escolas. Mas, por norma, os técnicos mais qualificados exercem funções na administração regional, poucos na local e contam-se pelos dedos os eleitos, democraticamente, para funções autárquicas. Não se pode, pois, esperar que os planos de actividade dos municípios picoenses fujam a obras de alargamento e asfaltagem de caminhos, à reparação e construção de espaços públicos e à atribuição de subsídios para ocupação de tempos livres dos jovens e idosos – tarefas de mestres de obras e não de gestores municipais!... É nisto que reside o desacordo: enquanto os responsáveis locais não atraírem e incentivarem os jovens quadros e a iniciativa privada exterior e local para novos negócios, e antes  levantarem obstáculos à inovação, mais os concelhos rurais se desertificarão. Por isso, os eleitores devem escolher entre quem, apresenta projectos consistentes e credíveis de futuro e entre quem tapa buracos só resolve pequenos e imediatos problemas que não alicerçam um futuro sustentável. Este é o grande dilema: ou se aposta na evolução ou na estagnação!

 

 

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