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Movimento em defesa dos barcos do Pico

 

Já foi definido, para o próximo ano, o serviço público de transportes marítimos nas Ilhas do Grupo Central do Arquipélago. O governo aumentou o número de viagens semanais inter-ilhas, quer na época baixa, quer nas épocas média e alta e ampliou os lugares disponíveis nas carreiras marítimas.
Como a realidade insular do centro do arquipélago vinha demonstrando, as cinco ilhas são complementares. A sua actividade económica e o ambicionado desenvolvimento não se confinam a cada uma, de per si, mas interagem numa rede de actividades económicas similares, hábitos, tradições e vivências  e ligações familiares decorrentes do velho e imparável fenómeno das migrações.
No grupo central - costumo eu dizer - é que se vive e sente, realmente o arquipélago. A companhia da ilha ou das ilhas em frente, reduz a solidão e o desejo da partida a que os insulares estão sujeitos na sua matriz genética.
No Grupo Central dos Açores, as pessoas movimentam-se, desde sempre, com grande frequência. Essa mobilidade só foi possível porque, ao longo dos séculos, os habitantes dessas ilhas construíram os seus próprios meios de transporte, adaptando-os às crescentes necessidades e ao evoluir dos tempos.
Na ilha do Pico, a indústria de construção naval de pequena e média dimensão, respondeu, sempre, às necessidades das pescas artesanal, industrial (caça à baleia e pesca de atum) e ao transporte de mercadorias e de passageiros.
Em várias localidades, da Ponta da Ilha à fronteira com o Faial, na Prainha do Galeão, ou em Santo Amaro, os construtores navais construiram barcos, lanchas e traineiras esbeltos e seguros que andaram por esses mares enfrentando ondas alterosas nos tempos de invernia, ou vogando de velas enfunadas na caça à baleia ou nos canais entre Pico-Faial, Pico-São Jorge-Terceira e Terceira-Graciosa, num rodopio incessante e programado.
Pelo Grupo Central, andei nos iates Terra Alta, Santo Amaro e Espírito Santo, conheci ainda o Ribeirense, a Chalupa Helena e o Fernão de Magalhães qual vendedor ambulante, distribuindo telha, cereais e peixe seco da Graciosa.
Viajei nas lanchas de passageiros Calheta, Velas, Espalamaca e lembro-me da Hermínia e da Lurdes a fazerem a carreira pelo sul do Pico, da Calheta de Nesquim à Horta. O Adamastor e o Picaroto transportavam do Pico: lenha, madeiras, vinho, fruta e outros produtos; do Faial traziam: farinha, materiais de construção, viaturas, etc., num vai-vem que desanuviava ressentimentos antigos, entre as duas ilhas.

No Porto da Madalena os barcos apodrecem...

O recém-criado serviço regional de transportes marítimos de passageiros e viaturas nos Açores, com falhas que os utentes mais facilmente desculpam que os políticos, pois pouco uso dele fazem, teve o mérito de devolver os açorianos ao mar e de dar-lhes a conhecer todas as ilhas. O tempo encarregar-se-á de valorizar esse meio de transporte, como aconteceu com os antigos Lima, Carvalho Araújo, Angra do Heroísmo e Funchal, Cedros, Arnel e Ponta Delgada, que tantos protestos causavam quando não escalavam as ilhas nos dias certos e deixavam em terra passageiros que, por boas ou más razões, só por mar podiam sair da ilha.
A história recente do transporte marítimo de passageiros e de carga,  justifica e obriga as entidades regionais, a um olhar mais atento à preservação desse património - parte da história do nosso desenvolvimento.
No porto da Madalena, deparamo-nos com um cenário que nos envergonha e entristece: Calheta, Espalamaca e Picaroto, jazem e apodrecem juntamente com um moinho de vento – símbolo da produção cerealífera da Ilha. Mantendo viva a memória dos benefícios prestados por aquelas embarcações, não ficamos indiferentes ao desmazelo e abandono de um  património que é parte das nossas vidas, tal como as canoas e lanchas baleeiras ou outros antigos meios de transporte.
Há dias abracei o Mestre Norberto, com quem passei momentos de conversa agradáveis, durante as viagens do canal. Sei da sua tristeza quando viu a Espalamaca e a Calheta a degradarem-se na rampa do porto da Madalena.
Compete aos picoenses e faialenses e a quantos nelas viajaram, desencadear um grande movimento em prol da recuperação desses bons e históricos exemplares - monumentos da construção naval picoense. A sua  recuperação, se bem aproveitada, pode até ter retorno económico na indústria turística.
Às instituições locais e regionais compete desencadear o processo, porque o tempo urge!

 

 

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